Antes mesmo da chegada à Casa Branca, Donald Trump prometia que iria “Make America Great Again”. Uma vez sentado na Sala Oval, o agora Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) voltou a fazer jus à promessa naquele a que chamou “Liberation Day”.
O protecionismo americano reforçou-se, ontem, com o anúncio de novas taxas, que visam o crescimento económico dos EUA.
Num discurso ao país (e ao mundo, que assistia expectante), Donald Trump anunciou duas novas taxas, a par de outras que tinha já imposto, anteriormente.
- Taxa-base de 10% para todos os parceiros comerciais dos EUA – entrará em vigor a 5 de abril.
- Taxas recíprocas contra os “piores infratores” – entrarão em vigor a 9 de abril.
As chamadas taxas recíprocas impor-se-ão sobre as importações de cerca de 90 países, segundo a CBS, além do imposto geral de 10% aplicado a todas as importações para os EUA.
Ou seja, os novos direitos aduaneiros serão cumulativos, pelo que as importações serão sujeitas ao direito universal de 10% mais os direitos de importação recíprocos específicos destinados a cada país.
De acordo com o Presidente dos EUA, o “Liberation Day” é o princípio do fim de um défice comercial entre os EUA e outros países, desde a China à União Europeia.
O que são estas taxas recíprocas?
Recíprocas. Isso significa que eles fazem-nos a nós e nós fazemo-lo a eles.
Disse Trump, na conferência de imprensa, onde anunciou as novas taxas que ajudarão a impulsionar a produção nacional e equilibrar as trocas comerciais com outros países que impõem taxas mais elevadas sobre as importações dos EUA do que os EUA cobram pelos seus produtos.
Conforme explicado, taxas verdadeiramente recíprocas impõem o mesmo imposto sobre as importações dos EUA que outros países cobram sobre as exportações americanas, numa base produto a produto.
Por exemplo, se um país impusesse uma taxa de 6% sobre o calçado fabricado nos EUA, os EUA tributariam o calçado desse país à mesma taxa.
Atualmente, os EUA e os seus parceiros comerciais cobram taxas diferentes sobre os mesmos produtos.
Reciprocidade significa que, se um país tiver taxas mais elevadas do que as nossas sobre determinados produtos, nós elevá-las-íamos para esse nível.
Explicou Alex Jacquez, chefe de política e defesa da Groundwork Collaborative, um grupo de reflexão sobre políticas públicas, ao CBS MoneyWatch.
Fonte: @WhiteHouse via X
Apesar da imposição, na opinião de alguns economistas, as taxas recíprocas com os principais parceiros comerciais podem ser difíceis de estruturar.
Segundo Alex Jacquez, “estabelecer taxas recíprocas em todas as categorias de produtos com todos os parceiros comerciais seria completamente inviável com a nossa capacidade administrativa”.
Ao mesmo tempo, estas taxas poderão agitar o comércio global e aumentar os custos para os consumidores e empresas dos EUA.
Outros especialistas, contudo, sugerem que o objetivo não é tanto levar as empresas a transferir a sua produção para os EUA ou gerar receita federal, mas antes pressionar outras nações a fechar acordos comerciais com os quais o Governo americano se sinta confortável.
Os “Dirty 15”
Em vez de impor taxas perfeitamente recíprocas, a Casa Branca anunciou taxas específicas para cada país, desenhadas conforme o desequilíbrio comercial com os EUA.
Na quarta-feira, Donald Trump disse que o seu governo vai impor taxas recíprocas em cerca de metade da taxa de direitos cobrados por outras nações.
Para isso, a Casa Branca usou uma fórmula para calcular a soma de todas as práticas comerciais que considera injustas de outras nações, incluindo manipulação de moeda, taxas e outras barreiras.
Por exemplo, os EUA vão igualar a taxa de 67% da China com uma taxa de 34% sobre as exportações chinesas para o país, segundo a CBS.
A tributação de muitos produtos será muito diferente de uma forma próxima, porque será equilibrada por país, mas não por importação ou exportação.
Disse Jacquez, explicando que “é aí que vão surgir as complicações, e podemos assistir a um cenário em que os países retaliam contra nós”.
Além disso, os EUA definiram um grupo de nações como uma referência aos 15% de países que se espera que sejam mais visados pelas novas taxas recíprocas, dado o seu excedente comercial com os EUA.
De nome “Dirty 15”, esses representam “uma enorme quantidade do nosso volume de comércio”, segundo o Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, à CBS.
Conforme teorizado por Simon MacAdam, economista-chefe adjunto global da Capital Economics, os alvos prováveis incluem os principais parceiros comerciais dos EUA, como a China, a União Europeia e o Vietname.
Sobre o impacto das taxas recíprocas sobre os preços ao consumidor, para já, não é claro, com os analistas a perceberem ainda o rumo que a decisão poderá tomar.